Sequências que não são feitas pela mesma desenvolvedora tradicionalmente responsável pela franquia sempre são um momento decisivo para qualquer marca. É preciso mostrar que as mudanças internas são para melhor, e que o produto final faz jus a seus antecessores — ou os supera. Arcania está nesse ponto, já que a Spellbound tomou o lugar da Piranha Bytes... Mas a demo não responde a todas as nossas perguntas.
Dúvidas no ar
Quando Arcania foi anunciado pela primeira vez, muito se falou a respeito da mudança de paradigmas da franquia, tornando-a mais acessível e inserindo muito mais elementos de fantasia no game. Isso porque a série Gothic estava acumulando uma reputação de agradar apenas aos jogadores hardcore, dispostos a entender o jogo depois de várias horas de dedicação.
A versão demonstrativa do título, disponível agora para PC e Xbox 360, é uma boa oportunidade para que o público finalmente veja o que está sendo feito. Adições como um minimapa e demonstrativos de missões sobre os elementos que fazem parte delas ajudam os jogadores novatos a se acostumar com a experiência de jogo.
Quando iniciamos nossas aventuras, fomos jogados diretamente no papel do protagonista, que não é nomeado, um pastor que vive em uma aldeia à beira do mar. O cidadão é bruscamente acordado por uma mulher que revela que um homem chamado Gromar está procurando por ele — e pede que vá a seu encontro.
Após algumas opções de diálogo esquisitas (podíamos escolher a opção de pedir um beijo à mulher), fomos pela aldeia procurar o tal homem. Aí já é possível perceber que o jogo é bonito, pois existem vários efeitos de iluminação, texturas e sombras que tornam o pequeno vilarejo bastante agradável, visualmente.
Folhas se movendo com o vento, ovelhas andando de um lado para o outro, as ondas do mar que se movem lentamente... Tudo passa a sensação de um lugar extremamente pacato, no qual a maior preocupação é com as tarefas diárias de cada pessoa. Após admirar a paisagem por alguns momentos, decidimos parar de enrolação e ir atrás de Gromar.
Ao encontrá-lo, ele acusa o protagonista de fazer algo às escondidas, e demanda explicações. É aí que descobrimos que a mulher que acordou o futuro herói é sua namorada, e que os dois pretendem se casar. Obviamente, o homem com quem estamos falando é pai dela, e exige uma prova de força para que o casamento possa ser realizado.
A partir daí começam algumas aventuras menores que visam adaptar o jogador aos sistemas de combate, habilidades, magias e artesanato do game, nada muito complicado. Todos eles são absorvidos rapidamente, já que não parece existir nenhuma complicação desnecessária, e as estatísticas e números a serem analisados vão direto ao ponto.
O que não nos impressionou é o fato de as missões seguirem o perfil mais básico existente em jogos de RPG: uma consistia em matar dois goblins, outra em coletar seis cogumelos, outra em conversar com alguém. Até aí, estamos no mesmo ponto que os jogos de 30 anos atrás. Infelizmente, todas as missões da demo são construídas dessa maneira, o que nos deixa em dúvida com relação ao resto do jogo.
O sistema de combate em si não é particularmente atrativo, já que é bem básico e o jogador deve atacar os oponentes com golpes de perto, à distância ou por meio de magias. Os ataques corpo a corpo podem ser encaixados em uma sequência de até quatro (antes que o jogador aprenda novas habilidades) e os golpes à distância e por magia devem ser mirados nos inimigos — mas é fácil errar, já que o adversário pode desviar.
Ou melhor: seria fácil errar, se a inteligência artificial não fosse tão estúpida. Só existem duas dificuldades na demo, fácil e normal, e jogamos na segunda. Ainda assim, foi ridiculamente tranquilo passar por todos os desafios, e em momento algum fomos sequer ameaçados ou tivemos algum receio. Difícil dizer se isso é consequência de jogarmos tantos games e estarmos familiarizados com as mecânicas ou se é realmente preciso que veteranos usem os dois níveis de dificuldade que existirão no game final.
Existem três possibilidades de evolução de personagem, pelo que pudemos ver, que são exploradas em várias divisões de uma árvore de talentos. Alguns deles melhoram os ataques de perto, outros melhoram os ataques de longe e outros melhoram as magias — algo que parece reforçar imensamente o foco do game nos combates, embora esse aspecto não nos tenha parecido tão divertido.
Algo que conta muito a favor do título, porém, é a flexibilidade na hora de gastar os pontos de habilidades. O jogador pode evoluir um determinado aspecto do personagem e em seguida mudar para outro completamente diferente, criando a possibilidade de personagens realmente moldados ao perfil do usuário e seu estilo de jogo.
Outro elemento importante do game, mas que desta vez é negativo, é a superficialidade dos diálogos. Para um jogo que pretende focar bastante na narrativa, as possibilidades nos pareceram realmente limitadas, e nenhuma delas era realmente interessante a ponto de nos fazer ter vontade de usá-las — o fizemos apenas para ver os resultados.
No final das contas, o game parece ser um bom, embora limitado, jogo de RPG que deve agradar por seu carisma e boa apresentação — além de ser bem acessível e de rápido aprendizado, o que pode criar apelo junto àqueles que não querem passar horas estudando números e arquétipos antes de sequer montar seu personagem.
Diferenças radicais entre versões
Entretanto, é importante fazer um adendo a respeito das diferenças entre a versão para computadores e a versão para Xbox 360. Deixando os eufemismos de lado, o game roda porcamente no console da Microsoft. É uma diferença tão grande, tão brutal, tão grotesca, que não tivemos a menor vontade de verificar as aventuras na plataforma após termos terminado no PC.
Não se trata de preferência pessoal neste caso, pois os problemas são concretos e visíveis. Em primeiro lugar, os gráficos são infinitamente piores. Problemas de pop-in, screen tearing, shimmering, taxa de quadros por segundo abaixo de 30, texturas inconsistentes e uma resolução abismal se juntam para formar um quadro realmente pobre e nada digno do Xbox 360.
A situação ainda vai além: algumas das explicações do tutorial que presenciamos no PC simplesmente não apareceram na tela quando jogamos no X360. Explicações sobre o livro de missões, sobre as árvores de habilidades e vários outros elementos essenciais do jogo — sobre os quais o jogador precisa saber para navegar tranquilamente pelo game.
Arcania: Gothic 4 é bom, direto e acessível, sem dúvida nenhuma. Mas se a pessoa tem a possibilidade de jogar no PC em vez do X360, deve fazê-lo impreterivelmente. A diferença é simplesmente esmagadora. O que é ruim não só para quem joga no console da Microsoft, mas também para os donos de PS3 que eventualmente queiram uma versão para seus consoles, já que uma decepção nas vendas agora pode resultar em um eventual cancelamento da passagem ao console da Sony.
Agora é esperar pelo dia 12 de outubro para conferir quais os problemas que foram resolvidos — e se a versão dos consoles foi trazida ao patamar em que se encontra aquela dos PCs.
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Fonte: Baixaki Jogos
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